Resumo semanal: 30/06 a 04/07

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Ásia

A economia chinesa apresentou expansão moderada em junho, segundo o índice PMI composto calculado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS). O indicador, que agrega os setores de manufaturas, construção e serviços, subiu 0,3 ponto, alcançando 50,7 — patamar que indica leve crescimento. O setor industrial mostrou melhora, mas continua em território contracionista, com o PMI de manufaturas marcando 49,7. Já o setor de serviços manteve-se praticamente estável, com leitura de 50,1. Esses dados sugerem que a recuperação da economia chinesa segue desigual, com alguns segmentos ganhando tração lentamente, enquanto outros permanecem enfraquecidos. O desempenho do setor de construção também influenciou positivamente o resultado geral. Ainda assim, a ausência de estímulos mais robustos por parte do governo limita a aceleração do crescimento.

Complementando esse quadro, a sondagem privada do PMI Caixin reforçou sinais mistos. A indústria apresentou melhora, com o indicador subindo de 48,3 para 50,4 pontos, superando as expectativas e voltando à zona de expansão, impulsionada por aumento da demanda interna. No entanto, o setor de serviços registrou desaceleração mais intensa: o PMI caiu de 51,5 para 50,6, marcando o ritmo mais fraco desde setembro de 2024. O enfraquecimento foi atribuído à perda de fôlego das novas encomendas e à redução nas vendas externas. A combinação de expansão limitada na indústria e desaceleração nos serviços indica que a recuperação chinesa ainda carece de impulso sustentável. A atenção do mercado se volta agora para possíveis novas medidas de estímulo por parte de Pequim, diante do risco de perda de dinamismo no segundo semestre.

Europa

A guerra entre Rússia e Ucrânia segue sem solução, entrando em seu quarto ano, com ataques russos se intensificando nas últimas semanas. A instabilidade geopolítica segue como fator de risco relevante, embora o foco recente do mercado esteja nos dados macroeconômicos. A inflação ao consumidor da Zona do Euro (CPI) veio em linha com as expectativas em junho, com alta de 0,3% no mês e avanço de 2,0% em doze meses, segundo prévia do Eurostat. O núcleo do índice, que exclui itens voláteis como energia e alimentos, também apresentou alta moderada, de 2,3%. Os preços de bens permanecem sob controle, enquanto os serviços ainda pressionam a inflação, embora em desaceleração. A valorização do euro frente ao dólar e o enfraquecimento do mercado de trabalho contribuem para conter pressões inflacionárias. A expectativa é de que a inflação siga próxima da meta nos próximos meses.

Em evento anual promovido pelo Banco Central Europeu (BCE), a presidente Christine Lagarde afirmou que, embora a inflação esteja tecnicamente dentro da meta, a missão ainda não pode ser considerada cumprida. O BCE destacou que a decisão sobre cortes de juros dependerá da análise criteriosa dos próximos dados, diante de elevada incerteza econômica. O mercado de trabalho do bloco mostrou sinais de leve deterioração, com a taxa de desemprego subindo para 6,3% em maio, ainda próxima de mínimas históricas. Os dados mostram forte heterogeneidade entre os países: enquanto a taxa aumentou para 3,7% na Alemanha, houve queda para 10,8% na Espanha. Apesar do cenário mais brando, o BCE continua cauteloso quanto ao relaxamento monetário, dada a persistência de riscos inflacionários setoriais e as incertezas quanto à recuperação econômica.

Oriente Médio

A tensão geopolítica no Oriente Médio apresentou alívio recente, com avanços diplomáticos relevantes. Após o cessar-fogo firmado entre Israel e Irã na semana anterior, um novo acordo, mediado pelos Estados Unidos, está sendo articulado entre Israel e o grupo Hamas. Israel e Hamas já aceitaram os termos propostos. Essa redução no risco geopolítico contribuiu para a estabilização dos mercados de energia, que vinham reagindo com forte volatilidade nos últimos meses. O preço futuro do petróleo tipo Brent subiu 2% entre os dias 26 de junho e 3 de julho, encerrando o período próximo a US$ 69 por barril. A alta veio após forte queda na semana anterior, refletindo o menor risco de interrupções na oferta regional. A recuperação parcial dos preços ocorre também à espera da nova decisão da OPEP+.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) se reunirá no início de agosto para revisar sua política de produção. O grupo deve anunciar um aumento de 411 mil barris por dia, revertendo parcialmente os cortes voluntários de 2,2 milhões de barris promovidos no final de junho. A medida visa recuperar participação no mercado global de energia, diante da retomada parcial da demanda e da estabilização dos preços. No mercado agrícola, os preços futuros das commodities também subiram na semana, refletindo preocupações com o clima e com a oferta internacional. O trigo registrou valorização de 5%, o milho avançou 6% e a soja teve alta de 3%. A combinação entre geopolítica mais estável e oferta limitada tem sustentado preços elevados, o que segue no radar de investidores e autoridades monetárias.

Estados Unidos

O Departamento de Trabalho dos EUA divulgou os dados de junho, revelando a criação de 147 mil empregos, número superior ao do mês anterior, sinalizando resiliência no mercado. Apesar disso, grande parte das contratações ocorreu no setor público, enquanto o setor privado ficou aquém das expectativas. O ganho médio por hora trabalhada seguiu firme, com alta anual de 3,7% até junho, sustentando pressões inflacionárias. A taxa de desemprego recuou para 4,1%, permanecendo em patamar historicamente baixo, embora a taxa de participação na força de trabalho também tenha diminuído, para 62,3%. Já o número de vagas em aberto subiu em maio, indicando que a oferta de empregos ainda supera a demanda. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego seguem contidos, em 233 mil solicitações na semana encerrada em 28 de junho. O cenário é compatível com um mercado ainda sólido, mas com sinais de moderação.

Na atividade, o setor industrial continuou em contração, embora em ritmo mais brando: o PMI do ISM subiu 0,5 ponto, para 49 em junho, levemente acima das previsões. Os componentes de demanda e emprego ainda apontam retração, enquanto os preços pagos permanecem elevados, refletindo pressão inflacionária. O setor de serviços, por sua vez, mostrou leve expansão, com o PMI subindo para 50,8 pontos, impulsionado por alta na demanda e nos preços. Em evento recente, Jerome Powell, presidente do Fed, reforçou que a manutenção dos juros altos depende da evolução dos dados, mas sinalizou que cortes ainda este ano não estão descartados. A percepção da equipe do Fed é de que os juros devem seguir elevados por mais tempo, diante da inflação ainda acima da meta. No campo fiscal, o Congresso aprovou um projeto de lei do governo que amplia gastos e reduz impostos, estimando-se que isso eleve a dívida pública em US$ 3,4 trilhões em dez anos. O texto será assinado por Joe Biden e reverte medidas implementadas na era Trump.

Brasil

O cenário global permanece volátil, porém ainda favorável ao Brasil, com dólar enfraquecido, commodities valorizadas (à exceção do petróleo) e expectativa de cortes de juros pelo Fed no segundo semestre. Nesse contexto, o mercado projeta o dólar a R$ 5,50 ao fim de 2025 e R$ 5,70 em 2026. As estimativas para o PIB foram mantidas em 2,5% este ano e 1,7% no próximo, refletindo estímulos de curto prazo e um mercado de trabalho aquecido. A inflação esperada para 2025 recuou de 5,5% para 5,0%, e para 2026, de 4,7% para 4,5%. Com o alívio inflacionário, espera-se que o Banco Central inicie cortes na Selic em janeiro de 2026, atingindo 12,50% no fim do ano — ou menos, caso as reformas fiscais avancem em 2027. Ao mesmo tempo, o STF derrubou os decretos do governo que elevaram o IOF, bem como a revogação feita pelo Congresso, e agendou uma audiência de conciliação. O aumento poderia gerar até R$ 12 bilhões este ano e R$ 24 bilhões em 2026.

A produção industrial recuou 0,5% em maio, segundo mês consecutivo de queda, afetando três das quatro grandes categorias econômicas e 14 de 25 ramos industriais. A retração está alinhada com o esgotamento da ociosidade nas fábricas e com o aperto monetário vigente. Mesmo assim, a indústria deve crescer 2,2% em 2025, após expansão de 3,1% em 2024, sustentada por estímulos temporários e pela resiliência do mercado de trabalho. O CAGED reportou a criação líquida de 149 mil vagas formais em maio, abaixo das expectativas, mas o saldo em 12 meses segue robusto, com 1,63 milhão de empregos. Todos os setores apresentaram moderação no ritmo de contratações, mas a taxa de desemprego segue em mínimas históricas, com alta da massa salarial real. No campo fiscal, o déficit primário de R$ 33,7 bilhões em maio veio melhor que o esperado, mas a dívida bruta subiu para 76,1% do PIB. A tendência de alta no endividamento exigirá reformas estruturais nos próximos anos.

Após projeto tributário de Trump ser aprovado, mercado espera por definição sobre tarifas

A semana termina com o polêmico projeto tributário de Donald Trump aprovado, enquanto o mercado aguarda uma definição sobre as tarifas recíprocas na próxima semana.

Com apenas um acordo relevante (com o Reino Unido) fechado até agora, além de uma trégua com a China envolvendo a disputa por terras raras, tudo indica que Trump deve prorrogar o prazo.

Scott Bessent já até citou qual deverá ser a nova data: o Dia do Trabalho, em 1º de setembro.

Por aqui, as atenções dos investidores continuam voltadas à crise do IOF, que pode travar o andamento da pauta econômica do governo no Congresso.

O ministro Alexandre de Moraes decidiu manter tudo como está e convocou uma audiência de conciliação entre governo e Congresso. Motta, Lula e Haddad têm dados sinais de que estão dispostos a conversar, com a ajuda de Alcolumbre.

Com todos de volta ao Brasil na próxima semana, uma reconciliação pode finalmente acontecer.

Bom fim de semana!

Juros futuros terminam em leve alta, em sessão de liquidez esvaziada

Os juros futuros mostraram oscilações modestas nesta sexta-feira, em uma sessão de liquidez reduzida e sem a referência dos Treasuries, devido ao feriado nos EUA.

Entre os poucos dados do dia, o dado de inflação ao produtor (PPI) no Brasil caiu 1,29% em maio, mas acumula alta de 5,78% em 12 meses, sem causar maiores influências sobre as taxas.

Investidores monitoraram as declarações de membros do governo e parlamentares, bem como a decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF), de convocar as partes para uma audiência de conciliação sobre a questão do IOF.

No fechamento, o DI para janeiro de 2026 marcava 14,925% na máxima do dia (de 14,915% no ajuste anterior); Jan/27 a 14,185% (14,134%); Jan/29 a 13,230% (13,188%); Jan/31 a 13,290% (13,264%); e Jan/33 a 13,340% (13,326%).