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Resumo semanal: 26/05 a 30/05
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
O lucro da indústria chinesa cresceu 1,4% no acumulado de janeiro a abril, em comparação ao mesmo período de 2023, segundo o NBS. Esse desempenho dá continuidade ao avanço já observado no primeiro trimestre, refletindo uma recuperação gradual do setor. Empresas de manufatura mais avançada, como as dos segmentos de eletrônicos e eletrodomésticos, foram beneficiadas por políticas de incentivo à substituição de equipamentos e ao consumo. Além disso, subsídios estatais para troca de bens duráveis ajudaram a impulsionar os resultados. A recuperação da lucratividade industrial sinaliza melhora na atividade econômica, ainda que de forma desigual entre os setores. O ritmo segue moderado, mas consistente, favorecido por estímulos direcionados e melhora nas exportações.
Nos próximos meses, espera-se que a indústria chinesa continue apresentando crescimento, com suporte adicional vindo do recente acordo comercial firmado com os EUA em maio. A medida deve aliviar pressões tarifárias e dar fôlego ao setor exportador, ainda que os efeitos possam ser temporários. O governo chinês mantém o foco em sustentar o dinamismo da produção e da demanda doméstica, mesmo diante de desafios como o mercado imobiliário e a dívida corporativa. A retomada da confiança industrial, aliada à resiliência do consumo, compõe um cenário mais favorável para o segundo semestre. Contudo, os riscos globais, especialmente ligados à política externa e à demanda internacional, ainda exigem cautela nas projeções de crescimento.
Europa
A guerra entre Rússia e Ucrânia completa quatro anos, com sinais de estagnação nas negociações por um cessar-fogo. O presidente dos EUA demonstrou frustração com os recentes ataques russos, acusando Moscou de dificultar o avanço dos diálogos de paz. Apesar disso, Trump indicou que novas sanções ainda estão sendo avaliadas, embora uma resolução definitiva para o conflito continue distante. Ao mesmo tempo, o índice de confiança na economia da zona do euro avançou em maio, após dois meses de queda, impulsionado por leve melhora na confiança da indústria e dos consumidores. O setor de serviços, no entanto, teve leve recuo. As autoridades europeias seguem monitorando os desdobramentos geopolíticos e seus efeitos sobre a recuperação econômica regional.
No âmbito comercial, a presidente da Comissão Europeia solicitou mais tempo ao presidente dos EUA para avançar nas conversas tarifárias, diante da ameaça de imposição de tarifas de 50% sobre produtos europeus já no início de junho. Como resultado, o governo americano postergou a medida para julho. As tensões comerciais com os EUA afetam diretamente a confiança dos mercados europeus, embora ainda exista disposição para diálogo. A União Europeia pressiona por um acordo que evite escalada tarifária, ao passo que os EUA alegam demora excessiva nas tratativas. Enquanto isso, incertezas quanto à política comercial global persistem, influenciando expectativas de inflação e crescimento na região. A necessidade de um desfecho diplomático se impõe, mas permanece sem prazo definido.
Oriente Médio
O conflito entre Israel e Hamas continua, com novos episódios de tensão e ofensivas em Gaza. Após uma trégua no início do ano, as tentativas de firmar um cessar-fogo definitivo não avançaram. Israel intensificou sua operação militar contra o Hamas, e uma resolução para o conflito ainda parece distante. Esse cenário mantém elevado o risco geopolítico na região, o que afeta mercados de energia e segurança global. Apesar disso, os preços do petróleo permaneceram relativamente estáveis nos últimos dias. O barril do Brent encerrou o período de 22 a 29 de maio cotado pouco abaixo de 65 dólares, repetindo o comportamento da semana anterior. A estabilidade ocorre mesmo diante de potenciais ajustes na produção por parte da OPEP+.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados avalia uma nova redução de produção para julho, o que marcaria o terceiro corte consecutivo. A decisão será tomada na reunião marcada para este fim de semana. Enquanto isso, os preços das commodities agrícolas apresentaram movimento oposto: após alta na semana passada, recuaram nos últimos dias. O milho teve queda de 3%, enquanto o trigo e a soja recuaram 2% e 1,5%, respectivamente. Esse movimento devolve os preços para patamares próximos aos observados duas semanas atrás. O mercado agrícola segue influenciado por fatores climáticos e pela demanda global. A combinação de estabilidade no petróleo e queda nas commodities agrícolas indica que, por ora, não há pressões inflacionárias adicionais vindas desses segmentos.
Estados Unidos
Os preços ao consumidor nos EUA apresentaram leve alta em abril, em linha com as expectativas, após estabilidade no mês anterior. O índice PCE, divulgado pelo Departamento de Comércio, apontou aceleração nos preços de bens, enquanto os serviços mostraram tendência de desaceleração. Esse movimento pode estar ligado ao aumento de tarifas sobre produtos importados. O núcleo do PCE, que exclui alimentos e energia, também teve leve alta e acumula 2,5% em 12 meses — acima da meta de 2% do Federal Reserve. A renda das famílias cresceu no mês, impulsionada pela alta salarial, e os gastos registraram pequena expansão. Já a confiança do consumidor avançou em maio, com melhora na percepção da situação atual e das expectativas. A alta foi atribuída, em parte, ao avanço nas negociações comerciais com a China.
Em nossa avaliação, a inflação deve continuar acima da meta do Fed nos próximos meses, pressionada pelas tarifas médias elevadas, que devem se manter apesar das negociações em curso. Embora não enxerguemos uma recessão à frente, a economia americana dá sinais de desaceleração. Por isso, acreditamos que o Fed manterá os juros elevados por mais tempo, sendo possível que permaneçam no patamar atual até o fim de 2025. A ata da reunião de maio reforçou essa visão, indicando cautela dos membros do comitê diante da inflação persistente e da solidez do mercado de trabalho. O setor imobiliário segue enfraquecido, com queda nas vendas e desaceleração nos preços das casas, pressionado pelas hipotecas ainda elevadas. Já os pedidos de bens duráveis e de capital continuam moderados, apesar de permanecerem em níveis relativamente altos. Por fim, incertezas jurídicas e tarifárias seguem afetando o comércio exterior.
Brasil
O PIB brasileiro cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 frente ao trimestre anterior, impulsionado pela safra recorde de grãos, especialmente a de soja. O resultado veio levemente abaixo das expectativas, mas apresentou alta de 2,9% na comparação anual. A agropecuária se destacou com crescimento de 12,2%. Para o segundo trimestre, a projeção é de uma expansão mais moderada, de 0,5%, refletindo uma desaceleração gradual da atividade. O mercado de trabalho segue robusto, com desemprego em baixa e aumento real da massa salarial. Medidas governamentais devem reforçar a demanda interna no curto prazo, o que gera um viés de alta na projeção de crescimento para 2025, hoje em 2,3%. A resiliência econômica tem sustentado também o consumo das famílias.
O IPCA-15 de maio subiu 0,36%, abaixo do esperado, com recuo da inflação anual de 5,49% para 5,40%. A desaceleração foi disseminada entre os grupos de bens industriais, serviços e alimentos, com destaque para surpresas baixistas em itens voláteis como legumes e frutas. O núcleo de serviços subiu 0,45%, e a média dos núcleos ficou em 0,40%, sinalizando moderação à frente. No mercado de trabalho, o CAGED registrou criação de 257,5 mil empregos formais em abril, bem acima do esperado. A taxa de desemprego recuou para 6,6%, enquanto o rendimento real subiu 3,2% em relação a abril de 2024. Apesar do superávit de R$ 14,1 bilhões em abril, a dívida bruta aumentou, atingindo 76,2% do PIB. Na conta corrente, o déficit de US$ 1,3 bilhão veio em linha com as expectativas e não compromete o sólido quadro externo do país.