Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[19/9/2023]

... Dados da inflação na zona do euro abrem o dia, sem muita chance de mudar a sinalização de fim do ciclo de aperto do BCE, que avalia elevar o compulsório bancário para drenar a liquidez. No final da noite (22h15), a expectativa é de manutenção da taxa de referência (LPR) de um e cinco anos da China, enquanto Fed e Copom amanhã concentram o maior suspense. Aqui, uma queda de 50pbs da Selic está dada, assim como nos EUA a aposta unânime é de uma pausa. Nos dois casos, o investidor espera pelos comunicados para projetar os próximos passos. A dúvida é se haverá mais um aumento do juro americano e se o nosso BC poderá acelerar o ritmo do corte para 75pbs. O mais provável, porém, é que essas questões fiquem sem resposta.

... Em relação ao Fed, deve manter a mensagem de que os próximos passos vão depender dos indicadores, deixando em aberto a possibilidade de um ajuste adicional este ano. O BofA está entre as instituições que espera mais 25pbs em novembro.

... A previsão do banco é de uma postura “equilibrada” de Powell na entrevista, repetindo o tom de Jackson Hole. Já para o gráfico de pontos, o BofA acredita que deverá indicar cortes de juros em ritmo mais lento em 2024.

... A ferramenta do CME Group passou a apontar chance majoritária (54,3%) de que o primeiro corte do juro ocorrerá em junho, e não mais em maio, diante das preocupações com as pressões inflacionárias do petróleo, que segue rumo aos US$ 100.

... Também para o Citi, os preços mais altos no setor de energia e a resistência da economia americana são alertas para o Fed.

... A escalada do petróleo também adiciona dúvidas sobre as chances de o Copom acelerar o corte no final do ano, como muitos já acreditam no mercado. Essa pressão deve aparecer no comunicado e na ata, com elevação das projeções para o IPCA.

... Economistas consultados pelo Broadcast acreditam que o Banco Central pode aumentar a estimativa para a inflação deste ano em até 0,30pp, destacando o salto do Brent desde a última reunião (2/8), de US$ 83/barril para US$ 94/barril.

... Também o dólar subiu nesse período de sete semanas, de R$ 4,75 para R$ 4,90, com depreciação expressiva do câmbio.

... Uma boa notícia veio do Focus, nesta 2ªF, com desaceleração nas projeções de inflação para 2023, de 4,93% para 4,86%, e para 2024, de 3,89% para 3,86%, mas sem mexer nas expectativas da Selic: 11,75% em dezembro e 9% no fim do ciclo.

... Também a Fazenda revisou suas projeções macroeconômicas: manteve a expectativa do IPCA/23 em 4,85% e subiu para 2024, de 3,30% para 3,40%. Para o PIB, elevou de 2,5% para 3,2% neste ano e manteve para 2024 (2,3%) e para 2025 (2,8%).

... Já o dólar continuou se beneficiando dos estímulos recentes da China, caindo para o patamar de R$ 4,85, enquanto o Ibovespa sustentou a mesma cautela registrada em NY e só não caiu mais porque Petrobras salvou o dia (leia abaixo).

AGENDA VERDE – O presidente Lula discursará hoje (10h) na abertura da Assembleia-Geral da ONU, um dia depois do lançamento dos green bonds, na Bolsa de NY, com os quais o Brasil pretende captar cerca de US$ 2 bilhões (R$ 9,73 bilhões).

... Segundo Fernando Haddad, a emissão teve uma “extraordinária” recepção dos investidores estrangeiros. Ele não deu detalhes porque o processo é sigiloso, mas afirmou que a operação vai melhorar o custo de captação do governo brasileiro.

... “A estreia é só o começo, podemos atrair mais recursos já que a agenda ambiental e a reforma tributária são complementares”, disse o ministro, que defende com entusiasmo o Plano de Transição Ecológica do Brasil, na Semana do Clima de NY.

... Haddad, que estará no encontro de Lula com Biden, amanhã, disse que pretende apresentar ao presidente americano proposta para que o Brasil e os Estados Unidos tenham negociações bilaterais com “um status privilegiado”.

... O ministro quer encaixar o País no projeto bilionário de agenda verde do governo americano, o Inflation Reduction Act (IRA).

... O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, Jorge Viana, afirmou que pretende organizar também um roadshow pela Europa para atrair investidores e apontar oportunidades de negócios no Brasil.

... “Vamos para Londres chamar os investidores e pretendemos ir também ao Parlamento Europeu (Bruxelas), para pedir mudança na lei aprovada pela União Europeia sobre o desmatamento no Brasil, no âmbito do acordo comercial entre UE e Mercosul.”

... Haddad disse que o governo está fazendo um “esforço enorme” para firmar o acordo ainda este ano.

MAIS HADDAD – Em palestra na Universidade de Columbia (NY), o ministro Fernando Haddad afirmou que o Brasil tem o desafio de zerar o déficit primário nos próximos anos “o quanto antes”, mas que colocar as contas no azul será “inevitável”.

... “A dúvida dos economistas é quando vai ser possível oferecer uma trajetória sustentável da dívida. A controvérsia não é se o governo vai ser capaz de entregar os resultados pretendidos, mas quanto tempo isso vai levar para acontecer.”

... Haddad insistiu que entregar resultados fiscais depende de todos os atores, do Executivo, do Congresso e até do Judiciário.

... Hoje, o ministro terá encontro com representantes do mercado financeiro, incluindo executivos do Goldman Sachs.

SÓ BOMBA - Enquanto aumenta a cobrança do investidor para corte de gastos e maior responsabilidade fiscal, na manchete do Estadão, o governo avalia reajustar os servidores com parte de receita extra em 2024.

... A ministra Esther Dweck (Gestão) disse que, caso a receita do próximo ano cresça mais do que o previsto no Orçamento, parte da verba adicional deverá ser utilizada para reajustar o salário do funcionalismo federal.

... A abertura do crédito extra depende, porém, da performance da receita neste ano. Pela regra do novo arcabouço, em maio, o governo fará uma revisão do que arrecadou em 2023 e vai refazer a previsão para 2024.

... Caso o resultado seja maior do que o previsto quando foi feito o Orçamento/24, pode abrir um crédito extra.

... Em entrevista ao jornal, Dweck disse ainda que a estabilidade do servidor público será preservada na proposta de reforma administrativa em discussão. O governo descarta uma PEC e aposta em um texto fatiado.

MAIS AGENDA – O impulso positivo do volume de serviços de julho sobre o IBC-Br (9h) deve manter o indicador em terreno positivo (+0,35%), apesar da desaceleração esperada contra a alta de 0,63% registrada em junho.

... O intervalo das projeções em pesquisa Broadcast vai de recuo de 0,10% a crescimento de 1,10%. Na base anualizada, o crescimento do “PIB do BC” deve desacelerar a 0,75%, contra a alta de 2,1% registrada em junho.

... À primeira hora do dia (5h), sai a segunda prévia do mês da inflação paulistana medida pelo IPC-Fipe.

LÁ FORA – O dia começa com a leitura final de agosto da inflação ao consumidor (CPI) da zona do euro (6h). Nos EUA, as construções de moradias iniciadas em agosto (9h30) têm previsão de queda de 0,8% contra julho.

... A secretária do Tesouro, Janet Yellen, discursa em dois eventos públicos, às 17h e às 18h30.

TRUCANDO – Apesar da tendência de que o Copom adote o script de não sinalizar desde já um potencial corte maior da Selic no final do ano, boa parte do mercado desafia os riscos e antecipa um BC mais dovish à frente.

... O Itaú está precificado para 0,75pp em dezembro; o Barclays espera 0,50pp, mas não descarta mais.

... Entre os economistas, Eduardo Velho (JFTrust) resume o argumento para se relaxar o juro com maior intensidade: a mudança do horizonte relevante da política monetária para 2025, com meta de inflação contínua.

... O novo formato adotado por Haddad, sem ano-calendário fixado, dá maior flexibilidade de ação para o Copom perseguir o target inflacionário e pode ser a carta na manga para o BC derrubar o juro com mais força.   

... Seja como for, quem acredita que as doses de queda da Selic se limitarão a meio ponto de cada vez cita o petróleo, o dólar, a piora fiscal, a inflação acima da meta, o PIB resiliente e o mercado de trabalho apertado.

... O Copom dá jogo e, pelo jeito, não haverá “aposta de graça” para dezembro. A briga promete ser boa.

... Lula já colocou dois de seus “emissários” no Copom (Galípolo e Aquino) e quer aprovar dois novos nomes ainda este ano para não perder a chance de levar sua visão econômica às primeiras reuniões de 2024.

... Segundo apurou o Broadcast, o governo pretende que os indicados para substituírem Fernanda Guardado e Mauricio Moura (cujos mandatos terminam em 2023) passem por sabatina no Senado antes de o ano acabar.

... Isso evitaria que eles só fossem sabatinados em março de 2024, após o recesso do Legislativo e da organização inicial das comissões do Congresso, e que perdessem as reuniões do Copom de janeiro e março.

... À espera do comunicado de amanhã, o DI pouco se arriscou: jan/24, 12,280% (de 12,273% no pregão anterior); jan/25, 10,455% (contra 10,419); jan/26, 10,110% (de 10,068%); e jan/27, 10,365% (contra 10,318%).

... No trecho mais longo da curva, o jan/29 subiu para 10,910% (de 10,886%); e o jan/31, 11,220% (de 11,201%).

... O dólar voltou a testar piso nos R$ 4,85. Como moeda de país produtor de commodity, o real se favoreceu novamente dos estímulos recentes da China para recuperar a economia local e do petróleo cada vez mais caro.

... O dólar à vista recuou 0,31%, a R$ 4,8561, e completou o quarto pregão seguido de queda, acumulando desvalorização de quase 2% no período. O dólar futuro para outubro caiu 0,35% ontem, a R$ 4,8635.

... O JPMorgan segue otimista com o real. “O Brasil ainda oferece altas taxas reais dentro dos emergentes e volatilidade baixa. Acreditamos que esse apelo persistirá nos estágios iniciais do ciclo de flexibilização do BC.”

... No noticiário do dia, a balança comercial teve superávit de US$ 2,058 bilhões na terceira semana de setembro e acumula saldo de US$ 5,741 bi no mês. Com a força do agronegócio, o resultado no ano está em US$ 68,145 bi.

... O Globo trouxe reportagem em que especialistas estimam que o saldo entre as vendas externas e as compras internacionais possa superar US$ 90 bilhões até o fim do ano, o maior desde o início da série, iniciada em 1989.

A ESCADINHA – Rodando no pico do ano, de degrau em degrau, o petróleo já está flertando com US$ 95, na escalada que ainda não encorajou o Ibovespa a buscar os 120 mil pontos, mas que limita as perdas da bolsa.

... O efeito positivo da nova alta do Brent para novembro ontem (+0,39%, a US$ 94,30) para as ações da Petrobras (ON, +1,25%, a R$ 37,36; e PN, +0,71%, a R$ 34,13) poupou o Ibovespa de furar os 118 mil pontos.

... O índice à vista fechou em queda moderada de 0,4%, a 118.288,21 pontos, com giro novamente inexpressivo: R$ 19 bi. A revisão otimista da Fazenda para o PIB deste ano, de 2,5% para 3,2%, não entusiasmou o investidor.

... A boa notícia, embora precificada, pegou o mercado em momento de suspense com o Fed e o Copom.

... Além disso, o ânimo da bolsa foi esvaziado pela queda da Vale (ON, -1,18%; R$ 68,72), com a primeira queda do minério (-0,17%) em seis dias, em leve realização. Mas a mineradora ainda acumula rali de 5,5% no mês.

... O discreto recuo dos preços do metal das máximas em cinco meses abriu oportunidade para uma onda de vendas no setor siderúrgico: Metalúrgica Gerdau PN, -3,35%; Gerdau PN, -3,26%; e Usiminas PNA, -2,02%.

... Os bancos fecharam mistos. Santander subiu 1,84% (R$ 26,50) e Bradesco ON teve leve alta de 0,15% (R$ 13,15). Bradesco PN terminou estável, cotado a R$ 14,92. BB caiu 0,42%, a R$ 47,35, e Itaú, -0,25%, a R$ 27,51.

... O pior desempenho do dia ficou com a Vamos (-5,56%). Desde a sua estreia no Ibovespa, há apenas duas semanas, a ação acumula perdas de 14,16% e já foi rebaixada duas vezes por dois grandes bancos.

... O primeiro foi o JPMorgan e ontem foi a vez do BofA, que piorou a sua recomendação para as ações da companhia de “compra” para “neutro” e cortou o preço-alvo do papel de R$ 18,40 para R$ 13,50.

... Já a lista de altas do Ibov foi liderada pela Braskem (+5,84%), com relatos na imprensa de que a Petrobras venderia a empresa à Adnoc/Apollo, parceria entre a gestora dos EUA e a estatal de petróleo dos Emirados.

... Depois do fechamento dos mercados financeiros, fontes disseram ao Valor que a Apollo deixou as negociações para a compra da Braskem e que a Adnoc segue sozinha nas tratativas para a operação.

... Segundo as fontes, a Adnoc pretende comprar a fatia da Novonor (ex-Odebrecht), que poderia seguir com uma composição minoritária na petroquímica brasileira e constituir uma joint venture com a Petrobras.

A BOLA DA VEZ – O petróleo próximo dos três dígitos surge como o fator que pode fazer a diferença para o ciclo do Fed e promete manter acirrada as apostas entre pausa e alta do juro nas duas últimas reuniões do ano.

... Novembro e dezembro estão em xeque, a não ser que Powell mate a charada amanhã, o que é improvável.

... A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse nesta 2ªF que os preços do petróleo devem parar de subir, mas que a administração Joe Biden está observando o tema com atenção e “muito de perto”.

... Questionada se o governo considera alguma ação, ela disse que o presidente quer garantir que a gasolina siga acessível para o consumidor, mas observou que o preço ainda está US$ 1 abaixo do que no verão de 2022.

... Cautelosos com o impacto inflacionário do petróleo, os juros dos Treasuries de curto prazo subiram ontem. Em compasso de espera pelo Fed, o yield da Note de 2 anos seguiu acima de 5%: 5,045%, contra 5,028% na 6ªF.

... Já as taxas longas, de 10 anos, reverteram a alta observada mais cedo e fecharam a 4,318%, de 4,332%.

... O dólar caiu, mas pouco, porque o Fed não deve fechar de vez a porta para a chance de o juro subir mais.

... Apesar de relatório do Bundesbank ter previsto contração da Alemanha no 3Tri, o euro subiu 0,29% (US$ 1,0687), com o rumor de que o BCE pode elevar o compulsório, como medida complementar contra a inflação.

... A libra fechou estável (+0,04%, a US$ 1,2378) e iene subiu de leve (+0,17%, a 147,63/US$) antes do BoJ (6ªF).

... As bolsas de NY iniciaram de lado a semana do Fed, em clima de esperar para ver: Dow Jones, +0,02%, aos 34.624,30 pontos; S&P 500, +0,07%, aos 4.453,53 pontos; e Nasdaq, +0,01%, aos 13.710,24 pontos.

EM TEMPO... AMERICANAS protocolou nova manifestação ao processo de produção antecipada de provas movido pelo Bradesco em que informa trazer mais uma evidência de que a antiga diretoria omitia fraude.

SANTANDER reformulou sua estrutura corporativa, com o objetivo de simplificar o negócio e ajudar a empresa a atingir metas de rentabilidade....

... Como parte das mudanças, o banco espanhol está combinando os negócios bancários de varejo e comercial de cada país numa nova unidade global, que será liderada por Daniel Barriuso...

... Também criará uma nova área de banco de varejo digital, que será liderada por José Luis de Mora.

ITAÚSA aprovou declarar antecipadamente pagamento de JCP no valor líquido de R$ 0,0990 por ação, a ser realizado até 30/12/24; será considerada a posição acionária de 21/9.

VIBRA ENERGIA vai distribuir R$ 478,4 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,4290 por ação, com pagamento até 30/6/24; ex em 22/9.

TIM aprovou a distribuição de R$ 425 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1755 por ação, com pagamento até 23/10; ex em 22/9.

MRV aprovou a emissão de certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) de, no mínimo, R$ 50 milhões.

IGUATEMI aprovou 4ª emissão de debêntures, no valor de R$ 500 milhões.

EMBRAER. Controlada Tempest Serviços de Informática vendeu a AllowMe Tecnologias para a Serasa Experian por US$ 45 milhões.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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