Resumo semanal: 14/07 a 18/07
China cresce, mas enfrenta incertezas externas; Reino Unido lida com inflação persistente. Nos EUA, a inflação continua pressionando o Fed. No Brasil, há alívio no atacado, mas desafios fiscais seguem no radar.

Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
Na Ásia, o principal destaque foi a economia chinesa, que manteve um ritmo robusto de crescimento no último trimestre. O PIB do país expandiu 5,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado sobretudo pelo dinamismo do setor de serviços, apesar do desempenho mais modesto da indústria. Mesmo com o crescimento próximo à meta governamental, persistem incertezas ligadas ao ambiente externo, principalmente devido às tarifas comerciais dos Estados Unidos. A atividade econômica em junho apresentou resultados mistos: a produção industrial surpreendeu positivamente, crescendo 6,8%, enquanto as vendas no varejo desaceleraram para 4,8%. Além disso, investimentos em imóveis, infraestrutura e manufatura continuaram em queda, com o desemprego urbano se mantendo em 5%.
No setor financeiro, o fluxo de crédito agregado ficou ligeiramente acima das expectativas, chegando a RMB 22,8 trilhões no acumulado do primeiro semestre, impulsionado pela emissão de títulos públicos e aumento nos empréstimos para empresas e famílias. Na frente externa, a balança comercial chinesa registrou um superávit significativo de US$ 114,8 bilhões em junho, sustentado pelo forte crescimento das exportações, especialmente para os EUA, apesar de variações nos envios para Europa e Japão. Por outro lado, as importações seguem desacelerando, refletindo o arrefecimento da demanda interna. Apesar dos números positivos, permanecem as incertezas em relação à manutenção das tarifas comerciais e à evolução do cenário global. Assim, a China segue atenta aos desdobramentos internacionais para sustentar seu crescimento.
Europa
Na Europa, o destaque da semana ficou para o Reino Unido, onde a inflação surpreendeu negativamente ao vir acima do esperado. O índice de preços ao consumidor (CPI) avançou de 3,4% para 3,6% nos doze meses até junho, segundo o ONS, enquanto o núcleo do CPI, que exclui itens voláteis, subiu para 3,7%, impulsionado, sobretudo, pela maior pressão nos preços de serviços. Esses dados indicam que as pressões inflacionárias persistem na economia britânica e justificam a posição cautelosa da autoridade monetária do país. Além disso, o cenário reforça as incertezas quanto ao ritmo de queda da inflação no curto prazo.
Em meio a esse contexto, o presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, afirmou recentemente que uma aceleração dos cortes de juros só ocorrerá em caso de deterioração do mercado de trabalho. No entanto, até o momento, as condições do mercado não indicam uma mudança brusca de trajetória. Por isso, o BoE deve manter um ritmo gradual de afrouxamento monetário, ao invés de um ciclo mais agressivo de cortes. A próxima reunião da instituição, marcada para agosto, será fundamental para definir os próximos passos da política de juros. Assim, o cenário europeu segue atento à evolução da inflação e das decisões do Banco da Inglaterra, que podem influenciar os mercados do continente.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a tensão geopolítica continua elevada, ainda que o acordo de cessar-fogo entre Israel e Irã permaneça vigente. Em contrapartida, as negociações por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas seguem distantes de uma solução, mantendo o clima de incerteza na região. Esse contexto contribuiu para a estabilidade no mercado de petróleo, onde o preço futuro do Brent se manteve praticamente inalterado entre 10 e 17 de julho, encerrando o período pouco acima de 69 dólares por barril. Dessa forma, a cotação do petróleo segue refletindo a cautela dos investidores diante do cenário internacional.
Além do petróleo, o panorama das commodities agrícolas na região apresentou resultados mistos durante a semana. Enquanto os preços futuros do trigo e do milho registraram quedas de 3% e 1%, respectivamente, o preço da soja teve uma leve alta de 1%. Essa movimentação evidencia o impacto tanto do contexto global quanto das preocupações regionais sobre as cadeias de suprimentos e a formação de preços. Assim, o ambiente econômico do Oriente Médio permanece fortemente influenciado por fatores geopolíticos e pelas oscilações dos mercados internacionais de commodities.
Estados Unidos
Na última semana, os dados de inflação nos Estados Unidos vieram em linha com o esperado: o índice de preços ao consumidor (CPI) registrou alta de 0,3% em junho, com o núcleo acumulando 2,9% em doze meses, permanecendo acima da meta do Fed. Embora itens voláteis, como veículos, tenham apresentado queda, os preços de alimentos e energia seguiram em alta, e os serviços mostraram sinais de desaceleração. Ao mesmo tempo, a inflação ao produtor (PPI) manteve-se estável no mês, com seu núcleo também em trajetória moderada, acumulando alta de 2,6% em doze meses. Diante desse cenário, acredita-se que o Fed manterá os juros elevados por mais tempo, estendendo o atual ciclo até, pelo menos, o final de 2025. Apesar disso, a atividade econômica mostrou desempenho um pouco mais robusto em junho, especialmente na produção industrial.
No entanto, o mercado imobiliário permanece enfraquecido, com recuo de 4,6% nas construções iniciadas e permissões ainda abaixo dos patamares históricos, reflexo dos preços e taxas de hipoteca elevados. Além disso, o índice de confiança das construtoras segue baixo, enquanto as vendas e a construção de imóveis continuam distantes dos níveis pré-pandemia. No mercado de trabalho, os pedidos iniciais de seguro-desemprego atingiram 221 mil na semana encerrada em 12 de julho, sugerindo estabilidade, mas evidenciando um ambiente menos dinâmico. No cenário internacional, o governo americano anunciou novas tarifas comerciais de até 30% contra regiões como União Europeia e México, intensificando as tensões e levando a novas rodadas de negociações. Dessa forma, os Estados Unidos seguem atentos tanto à evolução da economia doméstica quanto aos desdobramentos das relações comerciais globais.
Brasil
No Brasil, o cenário recente indica alívio nos preços no atacado devido à queda dos preços das commodities em reais, refletido na forte desaceleração do IGP-10, que chegou a registrar variação negativa em 2023 antes de se recuperar para 3,4% em 2025. Apesar desse arrefecimento da inflação no atacado, o ambiente doméstico ainda observa alguma pressão inflacionária proveniente do mercado de trabalho aquecido e da dinâmica de crédito, que seguem sustentando o consumo. Além disso, o IPCA mostra estabilidade, enquanto a volatilidade do câmbio segue moderada, sem impactos relevantes sobre a inflação corrente. Esse cenário corrobora a expectativa de manutenção de política monetária mais cautelosa no curto prazo, à medida em que o BC monitora os desdobramentos fiscais e do mercado.
No campo fiscal, destaque para a decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que validou parcialmente a elevação das alíquotas do IOF promovida pelo governo federal. A Corte permitiu a manutenção da cobrança em várias modalidades, mas excluiu as operações de risco sacado, promovendo um ajuste pontual na arrecadação esperada. A decisão deve contribuir para uma arrecadação extra relevante entre 2025 e 2026, auxiliando na busca pelo cumprimento das metas fiscais. Com isso, o governo reforça seu compromisso com o equilíbrio fiscal, mesmo diante de um cenário macroeconômico ainda sujeito a desafios globais e domésticos. Assim, a política econômica segue calibrada entre os avanços no controle inflacionário e a necessidade de ajustes fiscais.